LINCHAMENTO VIRTUAL. EXISTE VIDA APÓS UMA CRISE DE IMAGEM?

Vivemos um novo mundo, onde não basta apenas sermos excelentes profissionais, é preciso se gerenciar como marcas pessoais e se posicionar. Não podemos mais ficar no anonimato, quer dizer, até podemos, mas será muito mais difícil conseguir o resultado desejado.

Um processo de gestão de Marca Pessoal, diferentemente do que muitos acham, vai além da sua Imagem Pessoal e do posicionamento nas redes sociais.

Mas, neste artigo, vamos nos ater ao pilar Rede Social.

Antes de chegar no tema central, que é o linchamento virtual, temos que fazer uma viagem para contextualizar e dar ainda mais embasamento a esta importante reflexão.

Vivemos a era da abundância, e não se trata de uma simples abundância, ela é extremamente qualificada. Temos muitas opções de tudo e com muita qualidade.

Ao mesmo tempo em que o número de excelentes ofertas aumentou, o nosso tempo de escolha reduziu. É difícil parar, olhar minuciosamente, comparar e fazer a melhor escolha. Tem certos momentos em que escolher torna-se um processo torturante e desafiador.

Talvez você possa achar que estou exagerando, mas imagine a seguinte situação.

Estamos em quarentena, a esposa costuma sempre fazer as compras, mas neste período ela está ficando em casa com as crianças e o parceiro tem saído para realizar as tarefas necessárias. Ela entrega a lista de compras para ele ir ao mercado, ele vai a pé, apenas com o cartão de crédito no bolso e a lista, deixa até o celular em casa. Quando chega ao último item da lista, vê escrito shampoo. Porém, ao chegar no setor de shampoo, ele não encontra uma prateleira de produto, e sim, um corredor, com shampoos de todos os tipos, tamanhos e funcionalidades, para cabelo liso, proteção, para frizz (ele não fazia ideia do que era isso), calmante (ele se assusta, pois achava que calmante era só para se tomar), para cabelos maduros e até para cabelos estressados…

E agora? Qual escolher? Como ser assertivo sem poder ligar para a esposa e perguntar qual ela queria?  Viram como, hoje, escolher é um grande desafio?

Com tantas ofertas, o nosso desejo de acertar sempre na escolha está cada vez mais alto.

Quando “erramos na escolha” ficamos muito bravos, pois uma coisa é errar quando se tem 2 opções, desta forma você teria 50% de chance de acerto ou erro. Agora, quando se tem 10, 20, 30, 50 ou mais opções é muito ruim, você fica até pensando que tem “dedo podre”, que em meio a tantas opções foi escolher justamente a errada.

Estamos falando da abundância qualificada de produtos, mas certamente você já entendeu que fiz essa analogia para dizer que, da mesma forma que o mundo está repleto de excelentes produtos de alto nível, ele também está repleto de excelentes profissionais. Têm muitas pessoas tão incríveis, ou até mais incríveis, que realizam trabalhos como o meu, o seu e o de todos nós.

E agora? Como fazer, já que ser excelente não basta? Além de ser excelente, eu preciso mostrar que sou excelente para que o mercado se sinta seguro e confiante e, assim, possa me ter como uma das 3 melhores opções e me “comprar” diante de tantas outras.

Umas das formas que mais utilizamos, atualmente, para dar essa segurança aos nossos clientes, é nos posicionar através das redes sociais. Dessa forma, podemos conseguir, primeiramente, a atenção das pessoas, manter um relacionamento e, depois, conquistar confiança à medida em que mostramos nossas habilidades, competências e diferenciais.

Ou seja, ser um excelente profissional escondido em um canto silencioso, como fazíamos antes, não é muito recomendado, já que você pode ser esquecido e não mais escolhido.

Além disso, depois que foi adicionado o fator consciência, a venda se tornou consequência de um alinhamento de valores gerado por identificação e admiração, e não, simplesmente, um processo de troca de produtos e serviços por dinheiro. A entrada de dinheiro acontece em troca de algo que é relevante e significativo para o outro.

De nada adianta você ser excelente no ambiente profissional e não se mostrar como ser humano. Pessoas se conectam com pessoas, e para que deem valor a um certo produto ou serviço, elas querem saber quem é a pessoa que está por trás do lado profissional. Elas querem saber sobre a sua vida, seus valores, como você vive, em que você acredita.

Com isso, cada dia mais, os profissionais precisam se abrir  “expor” nas redes sociais elementos que ultrapassam o seu lado profissional mostrando o seu lado pessoal, isso gera mais conexão, identificação, admiração, relevância e visibilidade.

Vejamos, por exemplo, o caso da Luiza Trajano.

Boa parte do crescimento significativo da empresa Magazine Luiza se deu pelo posicionamento estratégico da Luiza como marca pessoal. A Luiza se coloca como ainda mais importante do que seus produtos. Ela é tão visível, querida e desejada quanto a marca dos produtos dela.
É ela quem transfere autoridade para a empresa. Ela é a grande garota-propaganda, está sempre à frente da marca, mostrando seus valores e ideais. São pessoas que tornam suas marcas humanas. Cada vez mais que as marcas se tornarem humanas e tiverem alma, mais sucesso elas vão ter, já que mais amadas elas serão.
.
Aí está a grande questão, SER HUMANO.

Como assim?  Não entendi.

O ser humano é falho, erra muito e, agora, muitos dos seus erros podem parar nas redes sociais, em questão de minutos viralizar e arruinar qualquer pessoa.

Há algumas semanas atrás, mais uma vez, vimos isso bem de perto, quando a influencer Gabriela Pugliesi, convidou meia dúzia de amigos para a sua casa, deu uma festa, acabou passando dos limites na bebida, postou trechos da festa em suas redes sociais e, no calor da situação, ainda postou momentos com muita bebida, palavrões e disse até algo do tipo: “Foda-se a vida”.

Ela possuía 3 milhões e 400 mil seguidores e eles ficaram muitos decepcionados por ela estar descumprindo as regras da OMS (Organização Mundial de Saúde), colocando pessoas em risco e contribuindo para propagação do vírus.

Não estavam errados, estavam cobertos de razão, ela teve uma falha grave, ainda mais que logo no início da pandemia ela foi infectada e sentiu na própria pele o que é ser contaminado. Quando estava em tratamento, chegou a pedir aos seus seguidores que rezassem por ela para que ela se curasse.

Então imagina, um dia você reza para a pessoa, no outro dia ela está contradizendo tudo e, ainda, influenciando milhões de pessoas a fazer o mesmo, podendo triplicar o número de casos e até de mortes.

Sim, foi MUITO GRAVE, uma falha com sérias consequências que ultrapassam a sua vida pessoal, pois colocaria muito mais pessoas em risco.

Essa atitude inconsequente logo fez com que, em pouco tempo, ela perdesse mais de 150.000 seguidores e, imediatamente, marcas como HOPE, Baw, Body For Sure, Desinchá, Evolution Coffee, Rappi, Maïs Pura e Liv UP suspenderam todas as ações futuras com Gabriela, criticando a quebra das medidas de isolamento social e defendendo a necessidade de respeitar a quarentena em meio à pandemia do novo coronavírus. 

https://www.instagram.com/p/B_f6SQnjfKI/?igshid=1kxh4c3f8vtgy

Ela veio a público, rapidamente, fez um pedido de desculpas, que não teve valor algum, continuou sem o perdão dos seus seguidores, sofreu ataques e muitas agressões, foi literalmente LINCHADA.

Como primeira medida de contenção, desabilitou os comentários, mas não foi suficiente, a situação continuava e se agravava ainda mais, a ponto de ela desabilitar o seu Instagram e tirar a sua conta do ar.

Ou seja, em menos de 2 dias, ela viu ir por água abaixo “todo seu império”. Um desmoronamento total da sua vida pessoal, profissional em questão de minutos.

Assim que vi tudo aquilo acontecendo, parei e me perguntei: É uma falha grave? É imperdoável?

Sim, grave, MUITO GRAVE. Mas, não acredito que seja imperdoável.

Antes de falar mais sobre não acreditar que seja imperdoável, quero dizer que este é o meu ponto de vista. Caso você tenha um ponto de vista diferente do meu, está super convidado a se expor, mas peço que seja com seriedade e respeito.

Por que acredito que não teria necessidade de ela ser LINCHADA?

  • As regras da OMS vieram para nossa vida há apenas 50/60 dias aproximadamente, devido ao momento e a sua real necessidade, mas não podemos negar que o nosso lado humano de ter contato, de “estar junto”, é muito forte. 
  • Tive que resolver uma situação na minha cidade natal no interior e fui embora de lá o mais rápido possível. Ficar isolada na cidade grande e cumprir as regras aqui é muito mais fácil, pois estamos quase sempre “cercados de estranhos”. Ao chegar na minha cidade, que é bem pequena (segundo o IBGE, tem 17.842 mil habitantes), é muito difícil olhar para as pessoas que você ama na rua, como tias, tios, primos, amigos de infância e passar direto. Quando eu me dava conta, já estava mais próxima do que deveria. Logo pensei, “não posso ficar aqui, vou me expor, expor meu filho que tem asma e está no grupo de risco”. Corri de lá, pois estava fragilizada e ver aquelas pessoas, me dava vontade de chegar perto, de receber carinho delas.
  • Durante a quarentena, também presenciei situações aqui na internet em que pessoas estavam fazendo coisas fora do seu normal e cometendo erros graves por estarem fragilizadas, com medo, inseguras, literalmente no seu limite.
  • O momento está, de fato, tirando todos do seu centro.

Por isso, acredito que temos que ser ainda mais tolerantes com as pessoas. Agora mais do que nunca, fazer da empatia e da compaixão, pilares fundamentais da nossa Marca Pessoal.

Antes de ter jogado pedra em outra pessoa, no caso, na Pugliese, cada um deveria ter feito um exame profundo de consciência e lembrado da fala de Jesus que nos ensinou: “Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra”, ou seja, nos dias de hoje seria “aquele que não descumpriu, nem que seja minimamente, uma regra da OMS, que atire a primeira pedra”.

.

Não teria importância alguma a audiência dela manifestar a sua opinião, estavam certos em cobrar dela. Mas cobrar e expor opinião, é diferente de atacar e crucificar.

Cada dia mais, presenciamos casos como este, onde a covardia impera, pois quem ataca está escondido por trás de uma tela de computador ou celular, e até mesmo, por trás de um perfil falso.

As consequências disso podem ser muito sérias.

Em julho de 2019, por exemplo, uma jovem suicidou depois que se casou com ela mesma porque foi deixada pelo noivo. Ela postou as fotos do casamento nas redes sociais e foi tão cruelmente criticada que, diante da dor que passava por ter sido abandonada, havia indícios que ela já tinha depressão e, com o LINCHAMENTO VIRTUAL, ela não aguentou e se entregou.

Vergonha, que “é considerado o estado mais baixo da consciência humana”, é como se fosse o nível mais extremo do ódio pessoal, e pode levar alguém a tirar sua própria vida.

Clique aqui para ler mais sobre esta notícia.

Além de tudo, também me questiono “como é líquida a relação de amor nas redes sociais”, hoje eu te amo, te idolatro, te sigo e me deixo influenciar por você, amanhã você comete um erro e eu te ODEIO?  Imagina se fosse assim na nossa vida? Um dia, um filho nosso comente um erro grave e no dia seguinte o odiamos?  Normalmente é o contrário, sentamos, escutamos, orientamos, “punimos” se for o caso e damos a mão para que ele encontre o seu caminho e não cometa mais erros. Somos muito mais tolerantes com quem amamos de verdade.

O problema é que o amor da internet não é de verdade, apesar de muitos acreditarem que é.

Recentemente, o YouTuber Whindersson Nunes, anunciou sua separação, posso imaginar quantas vezes ele leu, releu e reescreveu aquele texto para que reduzisse ao máximo as possíveis críticas dos odiosos que saem pela internet disseminando o seu lixo emocional nos outros.

https://www.instagram.com/p/B_k7RtOBPG9/?igshid=1g5h70udm1vud

No caso da Pugliese, sim, os cancelamentos de contratos deveriam ter sido sim ocorridos, pois foi uma falha grave que veio como gota d’água somando outras que já aconteceram, acredito que, infelizmente, tudo isso foi necessário.

Mas o LINCHAMENTO É TOTALMENTE inconcebível, desnecessário, cruel e criminoso.

Diante de fatos como este, não precisamos sair atacando as pessoas, podemos expor sim, pontos de vista diferentes e, até mesmo, cobrar uma atitude, mas com respeito ao outro.

É hora de parar e pensar:

E se fosse comigo?

Ou com alguém da minha família?

Por que isso me incomodou tanto?  Em qual das minhas feridas isso tocou?

Será que a minha decepção é tão grande por que eu trouxe a idealização e a perfeição na minha visão sobre ela? Esqueci que ela é humana?

Ou, talvez, ela mesma se mostrou perfeita demais para a sua audiência e fez com que eles criassem uma idealização e, quando viram ela se comportar de outra forma, não a reconheceram e por isso a decepção foi tão grande? Sentiram se enganados.

Dentro de nós moram vários eus, e cada hora um coloca a cara na janela.“ Está é uma fala de Rubens Alves, importante refletir sobre ela pois, temos que ser humanos e mostrar a nossa humanidade para todos, de forma gerenciada e cuidadosa, mas sempre devemos nos distanciar da cilada da perfeição.

Neste momento, você possa estar pensando “com ela é diferente, porque ela é influencer”.

Sim, ela tem a influência como profissão, mas todos nós também influenciamos pessoas. Sabe qual é a única diferença entre a influência dela e a sua? O tamanho da audiência.

A responsabilidade sobre os impactos de influenciar cabe a todos nós.

Antes de continuar falando sobre o valor da REPUTAÇÃO para o sucesso de uma Marca Pessoal, eu quis relatar a minha visão sobre o fato e a gravidade de se cometer linchamento virtual.

Agora vamos falar mais sobre REPUTAÇÃO.

Eu, como contadora por formação, acredito que muitos precisam fazer a gestão da reputação como se fosse a gestão de uma conta bancária, guiada por 3 pilares: CRÉDITO, DÉBITO E SALDO.

A todo momento, temos que estar conscientes de toda e qualquer ação nossa, das pequenas até as grandes e, até mesmo, a falta de ação pode impactar a nossa conta da reputação.

Tudo o que fazemos de positivo entra como crédito, se foi um grande feito, a entrada é maior, se foi um feito pequeno, a entrada é menor. Mas, todas as ações positivas entram na conta de crédito.

Da mesma forma, a cada ação “negativa”, a cada falha que cometemos, temos que ir na nossa conta da reputação e fazer um saque.

Explicando dessa forma analógica você já percebeu que temos que ficar sempre no saldo positivo, cuidando para creditar todos os dias nesta conta, pois a qualquer momento podemos cometer uma falha, afinal somos humanos. Assim, para que não “morramos” no primeiro saque, devemos manter o saldo bem gordo.

Sempre levanto este tema em palestras e gosto de exemplificar com o case do Roberto Carlos, quando aceitou fazer a propaganda da Friboi e dizia que deixou de ser vegetariano porque a carne era Friboi, lembram desta crise de imagem dele? Gerou crise de imagem? Abalo de reputação? Sim. Mas o saldo da conta dele de reputação era tão alto, que não o levou a “falência” e, logo depois de ter sido perdoado e o fato esquecido, ele continuou na alta conta da reputação.  Este é um grande exemplo, para que todos nós entendamos que reputação não tem botão liga e desliga, é um processo diário de uma vida com coerência.

Veja aqui

Se desejamos ter Marcas fortes é preciso ter a coerência como aliada.

Para responder SE EXISTE VIDA APÓS UMA CRISE DE IMAGEM, eu convidei o querido e competente Arthur Bender, precursor do Personal Branding no Brasil, para nos apoiar com todo seu conhecimento, generosidade e trazer a sua visão para nos ajudar. 

Vou compartilhar com vocês uma preciosa entrevista que fiz com ele sobre o tema, já que você entendeu que crise de Imagem, abalo de reputação não é algo restrito somente a pessoas e profissionais famosos, todos nós corremos este risco. Se quisermos garantir o nosso lugar ao sol e nos destacar na multidão, temos que gerenciar nossa marca pessoal de forma estratégica.

ENTREVISTA

  • Você acredita que existe vida após uma crise de imagem?
  • Você relata em seu livro que vivemos em uma sociedade envidraçada, quais os cuidados que temos que ter diante disso?
  • Quais comportamentos e atitudes devemos adotar nas redes sociais para evitar uma crise de imagem?
  • E se acontecer, mesmo sem querer, se tivermos uma crise de imagem, o que devemos fazer? Como proceder?
  • No caso da crise de Imagem instaurada, o que NÃO devemos fazer?
  • Gostaria de ressaltar algo mais sobre crise de imagem e abalo de reputação? Quer falar algo que não perguntei?

Quero deixar aqui expressa a minha gratidão pelo Arthur Bender por ter gravado estes vídeos exclusivamente para nós: GRATIDÃO Arthur!

Vocês virão que é fundamental ser humano, trazer a nossa humanidade para as nossas relações profissionais e para nossas redes sociais, mas tudo tem que ser feito com cuidado, estratégia e MUITO BOM SENSO.  Tudo que você trouxer da sua vida pessoal para as relações comerciais precisa fazer sentido, estar alinhado, ter uma razão, ser algo pensado estrategicamente e ter conexão com seu propósito e sua audiência.  “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.”

Nunca traga para a sua Marca Pessoal elementos que não fazem parte da sua verdade, as pessoas podem não gostar de você e está tudo bem. Mas, se tentar enganá-las, elas podem sim te odiar, todo mundo odeia ser enganado. Não se esqueça, Marca Pessoal e gestão da reputação, não têm fórmula mágica e nem botão liga e desliga, o segredo é sempre se auto observar e estar consciente nas suas ações e escolhas diárias.

Vamos errar, pessoas vão falhar, mas as agressões feitas de forma cruel, impiedosas e sem coração nas redes sociais precisam ser repensadas e cessadas imediatamente. Cada um tem que reciclar seu lixo emocional e não jogar no outro. Não somos donos da verdade e nem juízes, o tempo do enforcamento em praça pública, graças a Deus já passou.  Empatia e generosidade serão sempre bem-vindos.

Agora gostaria muito de conhecer a sua visão sobre reputação, crise de imagem e linchamento.

O que você pensa a respeito?

Leave a Reply

You must be logged in to post a comment.